Vários seres vivos em torno de um ser morto: o muro.
O espaço é povoado de biliões de seres diferentes uns dos outros. Cada conjunto de seres semelhantes fala unicamente a sua língua, comunica apenas no seu seio. Os membros de uma espécie não sabem o que os outros dizem ou querem dizer, se comunicam sequer ou têm conceitos semelhantes aos seus. O espaço é um lugar de conversas isoladas, entre seres que entendem apenas os seus semelhantes.
O muro vem para impor fronteira e separar os seres. A função última do muro talvez seja a de eliminar as realidades polifónicas que povoam um espaço e lhe dão densidade, complexidade, aventura, conflito. Um muro não desenha, um muro corta. Porque um desenho é um síntese de muitos pensamentos, enquanto um muro é a redução dos discursos. O desenho escuta, o muro silencia.
Isabel Fernandes Pinto, 18-10-2021
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